A semente de Leí receberá dos gentios o evangelho nos últimos dias — A coligação de Israel é comparada a uma oliveira cujos ramos naturais serão enxertados novamente — Néfi interpreta a visão da árvore da vida e fala da justiça de Deus em separar os iníquos dos justos. Aproximadamente 600–592 a.C.
1 E aconteceu que depois de haver sido arrebatado no Espírito e visto todas essas coisas, eu, Néfi, voltei à tenda de meu pai.
2 E aconteceu que vi meus irmãos e eles discutiam entre si quanto às coisas que meu pai lhes dissera.
3 Pois ele verdadeiramente lhes dissera muitas coisas grandiosas que eram de difícil compreensão, a menos que se perguntasse ao Senhor; e como eram duros de coração, não procuravam o Senhor como deviam.
4 E então eu, Néfi, fiquei pesaroso com a dureza de seu coração e também por causa das coisas que tinha visto e sabia que haviam de acontecer inevitavelmente, por causa da grande iniquidade dos filhos dos homens.
5 E aconteceu que fiquei abatido por causa de minhas aflições, pois considerava-as maiores que quaisquer outras, por causa da destruição de meu povo; pois eu vira a sua queda.
6 E aconteceu que depois de haver recuperado as forças, falei a meus irmãos, perguntando-lhes o motivo das discussões.
7 E eles responderam: Eis que não podemos compreender as palavras de nosso pai concernentes aos ramos naturais da oliveira e também aos gentios.
8 E disse-lhes eu: Haveis perguntado ao Senhor?
9 E eles responderam: Não perguntamos, porque o Senhor não nos dá a conhecer essas coisas.
10 Eis que eu lhes disse: Por que não guardais os mandamentos do Senhor? Quereis perecer por causa da dureza de vosso coração?
11 Não vos lembrais das coisas que o Senhor disse? — Se não endurecerdes vosso coração e me pedirdes com fé, acreditando que recebereis, guardando diligentemente os meus mandamentos, certamente estas coisas vos serão dadas a conhecer.
12 Eis que vos digo que a casa de Israel foi comparada a uma oliveira pelo Espírito do Senhor que estava em nosso pai; e eis que não fomos nós desmembrados da casa de Israel e não somos nós um ramo da casa de Israel?
13 E agora, o que nosso pai quer dizer sobre o enxerto dos ramos naturais por meio da plenitude dos gentios é que, nos últimos dias, quando nossos descendentes tiverem degenerado, caindo na incredulidade, sim, pelo espaço de muitos anos e por muitas gerações depois que o Messias se manifestar em pessoa aos filhos dos homens, então a plenitude do evangelho do Messias chegará aos gentios; e dos gentios, aos remanescentes de nossos descendentes —
14 E naquele dia os remanescentes da nossa semente virão a saber que são da casa de Israel e que são o povo do convênio do Senhor; e então saberão e chegarão ao conhecimento dos seus antepassados, e também ao conhecimento do Redentor e do evangelho que foi por ele ministrado a seus pais. Portanto, virão a conhecer seu Redentor e os pontos essenciais de sua doutrina, para que saibam como chegar a ele e ser salvos.
15 E então, naquele dia, não se regozijarão e não darão graças ao seu eterno Deus, sua rocha e sua salvação? Sim, naquele dia não receberão vigor e alimento da verdadeira videira? Sim, não virão eles para o verdadeiro rebanho de Deus?
16 Eis que vos digo: Sim; eles serão lembrados outra vez pela casa de Israel; serão enxertados, sendo um ramo natural da oliveira, na oliveira verdadeira.
17 E isto é o que nosso pai quer dizer; e ele quer dizer que isto não acontecerá senão depois de haverem sido dispersos pelos gentios; e ele quer dizer que isto se dará por meio dos gentios, para que o Senhor mostre aos gentios o seu poder; porquanto será rejeitado pelos judeus, ou seja, pela casa de Israel.
18 Nosso pai não falou, portanto, apenas de nossos descendentes, mas também de toda a casa de Israel, indicando o convênio que haveria de ser cumprido nos últimos dias, convênio esse que o Senhor fez com nosso pai Abraão, dizendo: Em tua semente serão benditas todas as famílias da Terra.
19 E aconteceu que eu, Néfi, falei-lhes muito sobre estas coisas; sim, falei-lhes sobre a restauração dos judeus nos últimos dias.
20 E repeti-lhes as palavras de Isaías, que falou sobre a restauração dos judeus, ou seja, da casa de Israel; e depois de sua restauração, não serão mais confundidos nem dispersos. E aconteceu que disse muitas palavras a meus irmãos, de modo que se tranquilizaram e humilharam-se perante o Senhor.
21 E aconteceu que me falaram novamente, dizendo: O que significa isso que nosso pai viu num sonho? O que significa a árvore que ele viu?
22 E disse-lhes: Era uma representação da árvore da vida.
23 E disseram-me: O que significa a barra de ferro que nosso pai viu, que levava à árvore?
24 E eu disse-lhes que era a palavra de Deus; e todos os que dessem ouvidos à palavra de Deus e a ela se apegassem, jamais pereceriam; nem as tentações nem os dardos inflamados do adversário poderiam dominá-los até a cegueira, para levá-los à destruição.
25 Portanto, eu, Néfi, exortei-os a darem ouvidos à palavra do Senhor; sim, exortei-os com toda a energia de minha alma e com todas as faculdades que possuía, a darem ouvidos à palavra de Deus e a lembrarem-se de guardar seus mandamentos, sempre, em todas as coisas.
26 E disseram-me: O que significa o rio de água que nosso pai viu?
27 E respondi-lhes que a água que meu pai viu era imundície; e sua mente estava tão absorvida com outras coisas, que não observou a imundície da água.
28 E disse-lhes que era um horrível abismo que separava os iníquos da árvore da vida e também dos santos de Deus.
29 E disse-lhes que era uma representação daquele horrível inferno que o anjo me dissera estar preparado para os iníquos.
30 E disse-lhes que nosso pai também viu que a justiça de Deus separava os iníquos dos justos; e que seu resplendor era como uma chama de fogo que sobe eternamente para Deus e não tem fim.
31 E disseram-me: Significa isso o tormento do corpo nos dias de provação, ou significa o estado final da alma depois da morte do corpo físico, ou refere-se às coisas que são terrenas?
32 E aconteceu que eu lhes disse que era uma representação tanto de coisas físicas como espirituais; pois chegaria o dia em que seriam julgados por suas obras, sim, mesmo as obras feitas pelo corpo físico nos seus dias de provação.
33 Se morrerem, portanto, em iniquidade, serão também rejeitados quanto às coisas espirituais que se referem à retidão; portanto, deverão ser levados perante Deus para serem julgados por suas obras; e se suas obras tiverem sido imundas, eles serão imundos; e se forem imundos, não poderão habitar o reino de Deus; se o habitassem, o reino de Deus seria também imundo.
34 Mas eis que eu vos digo que o reino de Deus não é imundo e que nenhuma coisa impura pode entrar no reino de Deus; é, portanto, necessário que haja um lugar de imundície preparado para o que é imundo.
35 E há um lugar preparado, sim, aquele horrível inferno do qual falei, cujo fundador é o diabo. Portanto, o estado final da alma dos homens é habitar o reino de Deus ou ser lançada fora por causa da justiça da qual falei.
36 Os iníquos, portanto, serão apartados dos justos e também daquela árvore da vida, cujo fruto é mais precioso e mais desejável que todos os frutos; sim, é a maior de todas as dádivas de Deus. E assim falei a meus irmãos. Amém.
Comentários de Tiago Lisboa Novais
Comentários de Líderes e Estudiosos da Igreja
1 Néfi 15:2–11. “Duros de Coração”
O Élder Dallin H. Oaks, do Quórum dos Doze Apóstolos, explicou como a dureza de coração limita nossa espiritualidade:
“Néfi tentou ensinar aos irmãos que eles também poderiam compreender o significado das profecias do pai, ‘que eram de difícil compreensão, a menos que se perguntasse ao Senhor’ (1 Néfi 15:3). Néfi disse-lhes que se não endurecessem o coração, se guardassem os mandamentos e perguntassem ao Senhor com fé certamente aquelas coisas lhes seriam dadas a conhecer (ver 1 Néfi 15:11).
Se endurecermos o coração, rejeitarmos as novas revelações e limitarmos nosso aprendizado àquilo que podemos aprender por meio do estudo e da análise das palavras exatas contidas nas escrituras oficiais atuais, nosso entendimento ficará limitado ao que Alma chamou de ‘menor parte da palavra’ (Alma 12:11). Se buscarmos e aceitarmos revelações e inspiração para ampliar nosso entendimento das escrituras, veremos o cumprimento das palavras inspiradas de Néfi quando prometeu que os mistérios de Deus seriam ‘desvendados pelo poder do Espírito Santo’ àqueles que a buscassem diligentemente (1 Néfi 10:19)” (“Scripture Reading and Revelation”, Ensign, janeiro de 1995, p. 7).
O Profeta Joseph Smith explicou que não eram só Lamã e Lemuel que poderiam conhecer as coisas que Néfi e seu pai sabiam — esse princípio se aplica a nós também: “Se todos nos uníssemos em torno do mesmo ideal, com a mesma disposição e com fé perfeita, o véu bem poderia romper-se hoje ou na próxima semana ou em qualquer outro momento” [Ensinamentos do Profeta Joseph Smith, Joseph Fielding Smith (org.), 1975, p. 11 (tradução atualizada)].
“Deus nada revelou a Joseph que não dará a conhecer aos Doze, e até o menor dos santos pode conhecer todas as coisas tão logo possa suportá-las” (History of the Church, vol. 3, p. 380; ver também Ensinamentos dos Presidentes da Igreja: Joseph Smith, p. 281).
1 Néfi 15:12–13. Judeus e Gentios
Muitas vezes no Livro de Mórmon lemos referências aos judeus e aos gentios. Às vezes é difícil compreender de quem o texto está falando. O Élder Bruce R. McConkie (1915–1985), do Quórum dos Doze Apóstolos, ajudou-nos nessa tarefa: “Tanto Leí como Néfi dividiam a humanidade em dois grupos: os judeus e os gentios. O grupo dos judeus consistia das pessoas naturais do reino de Judá ou de seus descendentes; todos os outros eram considerados gentios. Sendo assim, nós somos os gentios de quem essa escritura fala; nós somos aqueles que receberam a plenitude do evangelho e nós o levaremos aos lamanitas, que são judeus porque seus antepassados vieram de Jerusalém e do reino de Judá” (A New Witness for the Articles of Faith, 1985, p. 556).
O Élder McConkie também identificou um gentio que ajudaria muito na Restauração: “Joseph Smith (…) foi o gentio por meio do qual o Livro de Mórmon foi revelado e os membros da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias (…) são os gentios que levarão a salvação aos lamanitas e aos judeus” (The Millennial Messiah, 1982, p. 233).
1 Néfi 15:13–16. A Restauração do Evangelho nos Últimos Dias
O Presidente Gordon B. Hinckley falou do impacto que a Restauração teve na história: “Meus irmãos e irmãs, será que vocês percebem o que temos? Reconhecem nosso papel no grande drama da história humana? Este é o ponto de convergência de tudo o que aconteceu no passado. Esta é a época da restituição. Estes são os dias da Restauração. Este é o momento em que pessoas de toda a Terra sobem ao monte da casa do Senhor para buscar e aprender Seus caminhos e andar em Suas veredas. Este é o clímax de todos os séculos depois do nascimento de Cristo, e é uma época maravilhosa” (Conference Report, outubro de 1999, p. 94; ou Ensign, novembro de 1999, p. 74).
1 Néfi 15:24. A Palavra de Deus e os Dardos Inflamados
O Presidente Ezra Taft Benson falou da bênção que é termos a palavra de Deus. Ela não só nos proporciona bênçãos grandiosas, mas também nos dá forças para resistir firmemente à tentação: “Em seu sonho, Leí viu uma barra de ferro estendendo-se pelas névoas de escuridão. Percebeu que, agarrando-se a essa barra, as pessoas conseguiam evitar as águas imundas, afastar-se dos caminhos proibidos e não seguir as vias desconhecidas que conduziam à destruição. Mais adiante, seu filho Néfi explica claramente o simbolismo da barra de ferro. Quando Lamã e Lemuel perguntaram: ‘O que significa a barra de ferro?’ Néfi respondeu que representava ‘a palavra de Deus, [atentem para a promessa] e todos os que dessem ouvidos à palavra de Deus e a ela se apegassem, jamais pereceriam; nem as tentações nem os ardentes dardos do adversário poderiam dominá-los até a cegueira, para levá-los à destruição’ (1 Néfi 15:23–24; grifo do autor). A palavra de Deus não só nos conduz ao fruto mais desejável de todos, também é nela e por meio dela que encontramos forças para resistir às tentações e o poder de frustrar a obra de Satanás e seus emissários” [“O Poder da Palavra”, A Liahona, julho de 1986, p. 81 (tradução atualizada)].
1 Néfi 15:32–35. “Julgados por Suas Obras”
O Élder Dallin H. Oaks falou de como nossos atos definem quem somos. Aquilo em que nossos atos nos transformam determina o julgamento que receberemos:
“Em muitas passagens da Bíblia e das escrituras modernas, lemos sobre um julgamento final em que todas as pessoas serão recompensadas de acordo com seus atos, obras ou desejos do coração. Mas outras escrituras ampliam essa ideia e afirmam que seremos julgados pela condição que tivermos alcançado.
O profeta Néfi descreveu o juízo final com base no que nos tornamos: ‘E se suas obras tiverem sido imundas, eles serão imundos; e se forem imundos, não poderão habitar o reino de Deus’ (1 Néfi 15:33; grifo do autor). Morôni declarou: ‘Aquele que é imundo ainda será imundo; e aquele que é justo ainda será justo’ (Mórmon 9:14; grifo do autor; ver também Apocalipse 22:11–12; 2 Néfi 9:16; D&C 88:35). O mesmo se aplicaria a ‘egoísta’ ou ‘desobediente’ ou qualquer outra característica pessoal que não esteja em harmonia com as leis de Deus. Ao referir-se ao ‘estado’ dos iníquos no juízo final, Alma explicou que se formos condenados por nossas palavras, obras e pensamentos, ‘não seremos considerados sem mancha (…) e nesse terrível estado não nos atreveremos a olhar para o nosso Deus’ (Alma 12:14).
À luz desses ensinamentos, concluímos que o julgamento final não é apenas um balanço do total de atos bons e ruins, ou seja, do que fizemos. É a constatação do efeito final de nossos atos e pensamentos, ou seja, do que nos tornamos. Não basta fazer tudo mecanicamente. Os mandamentos, as ordenanças e os convênios do evangelho não são uma lista de depósitos que precisamos fazer numa conta bancária celestial. O evangelho de Jesus Cristo é um plano que nos mostra como podemos tornar-nos o que nosso Pai Celestial deseja que nos tornemos” (Conference Report, outubro de 2000, p. 41; ou “O Desafio de Tornar-se”, A Liahona, janeiro de 2001, p. 40).
1 Néfi 15:34–35. O Estado Final da Alma
Existe uma diferença clara entre o bem e o mal, entre a luz e as trevas e entre o reino de Deus e o reino do diabo. O inferno é o lugar preparado para os imundos que seguem Satanás, enquanto os justos que seguiram a Deus gozam da paz e glória de Seu reino. Mas como o estado final da alma de todas as pessoas pode ser dividido apenas em dois grupos — o grupo dos que habitarão o reino de Deus e o grupo dos que serão lançados fora? (Ver 1 Néfi 15:35.)
A chave para a resposta dessa pergunta encontra-se em Doutrina e Convênios 76:43, que resume a obra de Jesus Cristo desta forma: “Ele (…) glorifica o Pai e salva todas as obras de suas mãos, exceto os filhos de perdição, que negam o Filho depois que o Pai o revelou”. Sendo assim, no estado final haverá o grupo das pessoas que serão salvas e o das que não serão, ou seja, dos filhos da perdição. As pessoas que serão salvas são aquelas que receberão algum grau de glória. Doutrina e Convênios 76 cita três graus de glória — o celeste, o terrestre, e o teleste — e fornece informações sobre quem será digno de herdar cada um desses lugares no reino de Deus. Assim, todos os três graus de glória correspondem à salvação no reino de Deus, e os que não se qualificarem para recebê-la serão os filhos da perdição.