segunda-feira, 9 de novembro de 2015

1 Néfi Capítulo 4

Capítulo 4

Néfi mata Labão por ordem do Senhor e depois se apodera das placas de latão por meio de um estratagema — Zorã decide unir-se à família de Leí no deserto. Aproximadamente 600–592 a.C.

 1 E aconteceu que falei a meus irmãos, dizendo: Subamos novamente a Jerusalém e sejamos fiéis aos mandamentos do Senhor; pois eis que ele é mais poderoso que toda a terra. Então, por que não há de ser mais poderoso que Labão e seus cinquenta, sim, ou mesmo suas dezenas de milhares?

 2 Subamos, portanto; sejamos fortes como Moisés; porque ele por certo falou às águas do Mar Vermelho e elas dividiram-se para um e outro lado; e nossos pais saíram do cativeiro passando sobre terra seca; e foram seguidos pelos exércitos de Faraó, que se afogaram nas águas do Mar Vermelho.

 3 Agora, eis que sabeis que isso é verdade; e sabeis também que um anjo vos falou; como, pois, podeis duvidar? Subamos; o Senhor tem poder para livrar-nos, como livrou nossos pais; e para destruir Labão, como destruiu os egípcios.

 4 Ora, depois de haver eu dito estas palavras, ainda estavam irritados e continuaram a murmurar; não obstante, seguiram-me até chegarmos às muralhas de Jerusalém.

 5 E era noite; e eu fiz com que se escondessem fora das muralhas. E depois de se haverem eles escondido, eu, Néfi, penetrei sorrateiramente na cidade e dirigi-me à casa de Labão.

 6 E fui conduzido pelo Espírito, não sabendo de antemão o que deveria fazer.

 7 Não obstante, segui em frente e, chegando perto da casa de Labão, vi um homem que havia caído no chão, diante de mim, porque estava bêbado de vinho.

8 E aproximando-me dele, vi que era Labão.

 9 E vi a sua espada e tirei-a da bainha; e o punho era de ouro puro, trabalhado de modo admirável; e vi que sua lâmina era do mais precioso aço.

 10 E aconteceu que fui compelido pelo Espírito a matar Labão; mas disse em meu coração: Nunca fiz correr sangue humano. E contive-me; e desejei não ter de matá-lo.

11 E o Espírito disse-me outra vez: Eis que o Senhor o entregou em tuas mãos. Sim, e eu sabia também que ele procurara tirar-me a vida e que não daria ouvidos aos mandamentos do Senhor; e também se apoderara de nossos bens.

12 E aconteceu que o Espírito me disse outra vez: Mata-o, pois o Senhor entregou-o em tuas mãos.
 13 Eis que o Senhor mata os iníquos, para que sejam cumpridos seus justos desígnios. Melhor é que pereça um homem do que uma nação degenere e pereça na incredulidade.

 14 E então quando eu, Néfi, ouvi estas palavras, lembrei-me das palavras que o Senhor me dissera no deserto: Se a tua semente guardar os meus mandamentos, prosperará na terra da promissão.
 15 Sim, e pensei também que eles não poderiam guardar os mandamentos do Senhor, segundo a lei de Moisés, a menos que tivessem a lei.

16 Sabia também que a lei estava gravada nas placas de latão.

 17 E também sabia que o Senhor havia entregado Labão em minhas mãos por este motivo — para que eu pudesse obter os registros, de acordo com os seus mandamentos.

18 Obedeci, portanto, à voz do Espírito e peguei Labão pelos cabelos e cortei-lhe a cabeça com sua própria espada.

19 E depois de ter-lhe cortado a cabeça com sua própria espada, tirei-lhe as vestimentas e coloquei-as sobre o meu próprio corpo; sim, cada uma delas; e cingi meus lombos com a sua armadura.

 20 E depois de haver feito isso, dirigi-me ao tesouro de Labão. E quando me dirigia ao tesouro de Labão, eis que vi o servo de Labão que guardava as chaves do tesouro. E, com a voz de Labão, ordenei-lhe que me seguisse ao tesouro.

 21 E ele supôs que eu fosse seu amo Labão, porque viu as vestimentas e também a espada que eu levava à cintura.

22 E falou-me a respeito dos anciãos dos judeus, pois sabia que seu amo, Labão, havia estado com eles durante a noite.

23 E eu falei-lhe como se fora Labão.

 24 E disse-lhe também que eu levaria as gravações que estavam nas placas de latão a meus irmãos mais velhos, que estavam fora das muralhas.

 25 E também ordenei-lhe que me seguisse.

26 E supondo ele que eu me referisse aos irmãos da igreja e que eu verdadeiramente fosse Labão, a quem eu havia matado, seguiu-me.

27 E falou-me muitas vezes sobre os anciãos dos judeus, enquanto eu me dirigia para meus irmãos que estavam fora das muralhas.

28 E aconteceu que quando me viu, Lamã ficou com muito medo e também Lemuel e Sam. E fugiram de mim, porque pensaram que eu fosse Labão e que ele me houvesse matado; e que procurasse também tirar-lhes a vida.

29 E aconteceu que os chamei e eles me ouviram; portanto, pararam de fugir de mim.

 30 E aconteceu que quando o servo de Labão viu meus irmãos, pôs-se a tremer e estava para fugir de mim e voltar para a cidade de Jerusalém.

31 E agora eu, Néfi, sendo um homem de grande estatura e havendo também recebido muita força do Senhor, lancei-me sobre o servo de Labão e segurei-o, para que não fugisse.

32 E aconteceu que eu lhe disse que, se ouvisse minhas palavras, assim como o Senhor vive e vivo eu, se ouvisse minhas palavras, poupar-lhe-íamos a vida.

33 E disse-lhe, sob juramento, que não precisava temer; que seria um homem livre como nós, se descesse conosco ao deserto.

34 E também lhe disse: Certamente o Senhor nos ordenou que procedêssemos assim; e não seremos diligentes em guardar os mandamentos do Senhor? Se quiseres, portanto, descer ao deserto, ao encontro de meu pai, terás lugar conosco.

35 E aconteceu que Zorã criou coragem com minhas palavras. Ora, Zorã era o nome do servo; e ele prometeu que desceria para o deserto até o lugar onde estava nosso pai. Sim, e jurou também que permaneceria conosco daquele momento em diante.

36 Ora, desejávamos que ele permanecesse conosco para que os judeus não soubessem de nossa fuga para o deserto, com receio de que nos perseguissem para destruir-nos.

37 E aconteceu que quando Zorã nos fez o juramento, nossos temores cessaram a seu respeito.

38 E aconteceu que tomamos as placas de latão e o servo de Labão e partimos para o deserto; e viajamos até a tenda de nosso pai.

 

Comentários de Tiago Lisboa Novais

  1 - Algo interessante que notamos aqui nesta parte é que Néfi não sabia o que iria fazer ao se dirigir a casa de Labão, na realidade como ele mesmo disse "fui conduzido pelo Espírito". Ao pensar sobre isso lembro-me da letra do hino Brilha, Meiga Luz que diz "Não peço luz a fim de longe ver. Somente luz em cada passo ter". Penso que em alguns momentos da nossa vida teremos que agir desta forma. Andar com fé a cada passo, confiando no Espírito. 
 

Comentários de Líderes e Estudiosos da Igreja

    1 Néfi 4:6. “Conduzido pelo Espírito”
   
    Às vezes, é preciso coragem para deixar-se conduzir pelo Espírito. Há vezes em que a lógica e o raciocínio do mundo indicam um caminho contrário aos ensinamentos do Senhor. O Élder John H. Groberg, dos Setenta, fez-nos este desafio:

    “Estejam dispostos a correr riscos dentro de limites aceitáveis. Vivemos na era da razão e da lógica, dos fatos e números. Essas coisas podem ser úteis se ficarem subordinadas à fé no Senhor Jesus Cristo, mas se forem colocadas acima da fé Nele, deixam de ser úteis e podem-se tornar muito prejudiciais. Na vida, percebi que a maior parte das decisões acertadas que tomei talvez não tivessem sido tomadas se eu as tivesse tomado com base somente na lógica ou na razão. (…)

    (…) Néfi estava decidido a fazer o que Deus queria que ele fizesse, mesmo que isso fosse contrário à lógica. As escrituras dizem em 1 Néfi 4:6 que ele saiu sem saber de antemão o que faria, mas sabendo que precisava obedecer a Deus e conseguir as placas. (…)

    Suspeito que se tivessem dado ouvidos somente à voz da razão, Néfi e seus irmãos estariam até hoje esperando fora das muralhas de Jerusalém. Às vezes me pergunto se, por ouvirmos demais à voz da razão e da lógica e não confiarmos o suficiente em Deus, não acabaremos ficando a espera do lado de fora das muralhas de Sua cidade santa” (“Trust in the Lord”, Serão do SEI para os jovens adultos, 1º de maio de 1994, p. 3, www.LDSces.org).

    
1 Néfi 4:10. Néfi Recebe a Ordem de Matar Labão

  
    Que justificativa haveria para um homem reto como Néfi tirar a vida de outra pessoa? O Profeta Joseph Smith (1805–1844) ensinou que é o Senhor que estabelece o padrão do certo e do errado: “Deus disse: ‘não matarás’; em outra ocasião disse: ‘destrui-las-ás totalmente’. Esse é o princípio que conduz o governo do céu: as revelações adequadas à situação em que os filhos do reino se encontram. Tudo o que Deus nos pede é sempre certo, seja o que for, ainda que só venhamos a compreender o motivo muito depois do acontecido. Se buscarmos primeiro o reino de Deus, todas as boas coisas serão acrescentadas. O mesmo aconteceu com Salomão: ele primeiro pediu sabedoria e Deus lhe concedeu e, com ela, todos os outros desejos de seu coração, até em coisas que pareceriam abomináveis a todos que compreendem apenas em parte a ordem dos céus, mas que são na verdade corretas, porque Deus as concedeu e sancionou por revelação especial” (History of the Church, vol. 5, p. 135).
   
    Algumas pessoas acham erroneamente que o que o Espírito do Senhor as está inspirando a fazer é contrário aos mandamentos anteriores do Senhor, foi assim que Néfi se sentiu. Hoje, não precisamos preocupar-nos com a possibilidade de o Senhor inspirar-nos a fazer algo contrário aos mandamentos atuais. O Presidente Harold B. Lee (1899–1973) ensinou-nos que há uma pessoa específica a quem o Senhor faria uma revelação dessas: “Quando for preciso que qualquer coisa seja diferente daquilo que o Senhor ordenou anteriormente, Ele o revelará a Seu profeta e a ninguém mais” (Stand Ye in Holy Places, 1974, p. 159). 
   
    É preciso lembrar que o Senhor deu a Labão pelo menos duas oportunidades de entregar as placas de ouro sem perder a vida. Labão era mentiroso e ladrão, no mínimo duas vezes ele tentou tirar a vida de outros. Tanto o roubo como a tentativa de homicídio eram passíveis de pena de morte (ver Êxodo 21:14; 22:2; Deuteronômio 24:7). O Senhor queria que Leí e seus descendentes tivessem as escrituras, ainda que para isso fosse preciso que um homem perecesse (1 Néfi 4:13). As placas de bronze não foram uma bênção apenas para os nefitas e mulequitas, elas também foram a fonte de parte dos escritos das placas de ouro (como, por exemplo, os trechos de Isaías e a alegoria de Zenos). O Livro de Mórmon foi uma bênção para milhões de pessoas em muitas nações e continuará a sê-lo no futuro. Era tudo isso o que estava em jogo quando Néfi encontrou Labão e seguiu a voz do Espírito.


   
 1 Néfi 4:30–37. Honrar a Palavra Dada
   

    Quando Zorã percebeu que aquele era Néfi e não seu mestre, Labão, “pôs-se a tremer e estava para fugir” (1 Néfi 4:30), mas tranquilizou-se quando Néfi lhe prometeu que ele não sofreria mal algum e seria livre se fosse para o deserto em companhia dos filhos de Leí. Em contrapartida Zorã jurou que ficaria com Néfi e seus irmãos e, depois disso eles não mais temeram (versículo 37). Tanto Zorã como Néfi são exemplos de como a integridade pessoal pode ser decisiva.
   
    O Élder Richard G. Scott, do Quórum dos Doze Apóstolos, observou que a integridade é necessária para o alicerce da força espiritual: “A base do caráter é a integridade. Um caráter digno fortalecerá sua capacidade de atender obedientemente à orientação do Espírito. Um caráter justo é o que você está desenvolvendo. Isso é mais importante do que as coisas que você possui, o que aprendeu ou os objetivos que alcançou. Ele permite que você se torne uma pessoa digna de confiança. O caráter justo constitui o alicerce da força espiritual. Ele permite que nos momentos de provação ou teste você tome decisões difíceis e extremamente importantes de modo correto, mesmo que pareçam estar acima de sua capacidade” (Conference Report, abril de 2003, p. 80; ou “O Poder Alentador da Fé nos Momentos de Incerteza e Provação”A Liahona, maio de 2003, p. 75).


    1 Néfi 4:33. Juramentos
   

    O Livro de Mórmon relata diversas ocasiões em que foram feitos juramentos. Na época e na cultura de Néfi, os juramentos eram encarados com extrema seriedade. “[Hebreus 6:16] menciona como algo já sabido o princípio de que os juramentos são invioláveis e são o apelo final e decisivo à autoridade divina para ratificar uma afirmação. Neles, recorre-se ao Altíssimo para prometer ou asseverar em juramento, isto é, para fazer essa promessa ou afirmação da forma mais categórica e solene possível. Por esse mesmo princípio, os juramentos sempre foram considerados mais invioláveis quanto maior fosse a autoridade a qual ele invocasse, tanto no tocante aos indivíduos como às comunidades. Uma consequência desse princípio é que, nas Escrituras, os apelos ao nome de Deus contrapunham-se aos apelos a divindades pagãs e eram vistos como testes de lealdade” [William Smith (org.), A Dictionary of the Bible, sem data, “Oath”, p. 467; ver também a seção de comentários referentes a 1 Néfi 4:30–37 nesta página].
   
    Um estudioso explicou desta forma a força que tinham os juramentos na antiguidade:

    “O que é mais espantoso para o leitor ocidental é o efeito miraculoso que o juramento de Néfi surte em Zorã, a quem bastou ouvir algumas palavras convencionais para prontamente tornar-se tratável e, para os irmãos, por sua vez, bastou Zorã jurar que permaneceria com eles para que seus temores cessassem (1 Néfi 4:35, 37).

    A reação de ambas as partes só faz sentido quando percebemos que o juramento era o que havia de mais sagrado e inviolável entre o povo do deserto e seus descendentes: ‘Dificilmente um árabe quebra os juramentos que faz, mesmo que com isso arrisque a vida, [pois] entre os nômades, não há nada mais forte, não há nada mais sagrado do que um juramento’ e até entre os árabes das cidades, caso o juramento lhes seja extraído em certas condições especiais. ‘Fazer um juramento é algo sagrado entre os beduínos’, diz certo erudito. ‘Ai daquele que fizer um juramento falso: seu status social será abalado e sua reputação ficará arruinada. Seu testemunho não será mais aceito e ele terá de pagar uma multa em dinheiro’.

    Mas isso não se aplica a qualquer juramento. Os juramentos mais solenes e invioláveis são os feitos pela vida de algo, nem que seja de uma folha de grama. Os únicos juramentos mais terríveis que os feitos ‘por minha vida’ ou (o que é menos comum) ‘pela vida de minha cabeça’ são os feitos pela fórmula wa hayat Allah, ou seja ‘pela vida de Deus’ ou ‘vive o Senhor’, que é o exato equivalente árabe ao hai Elohim do hebraico antigo. Hoje essas fórmulas são empregadas levianamente pela gentalha da cidade, mas na antiguidade, esses eram considerados juramentos terríveis, como ainda são considerados hoje entre o povo do deserto. ‘Confirmei minha resposta à maneira beduína’, disse [Charles M.] Doughty. ‘Por minha vida’ (…), disse ele (…). ‘Jure pela vida de Ullah (Deus)!’ (…) Respondi eu e esse é o uso dos nômades ainda hoje em ocasiões solenes, mas em questões menores eles juram pela tua vida’. De acordo com [Samuel] Rosenblatt, tanto entre os árabes como entre os judeus ‘um juramento que não leve o nome de Deus não é juramento’ e ‘tanto na sociedade judia como na muçulmana é comum jurar ‘pela vida de Deus’.

    Vemos assim que a única maneira pela qual Néfi poderia apaziguar Zorã rapidamente seria fazer o único juramento que ninguém nem por sonho quebraria, o mais solene de todos os juramentos semitas: ‘Vive o Senhor e vivo eu!’ (ver 1 Néfi 4:32)” (Hugh Nibley, An Approach to the Book of Mormon, 2ª ed., 1964, pp. 104–105).

0 comentários:

Postar um comentário